Efeito do exercicio aerobio e do exercicio de forca na memoria em idosos


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Diversos estudos mostram que a pratica regular de exercicio fisico proporciona resultados beneficos a varios aspectos psicobiologicos, dentre os quais a memoria, em idosos. Este artigo de revisao tem o objetivo de verificar os efeitos fisiologicos do exercicio aerobio e do exercicio de forca sobre a memoria em idosos, bem como as diferencas ou nao entre os efeitos desses dois tipos de exercicio fisico sobre a memoria dessa populacao, na tentativa de um embasamento teorico para futuros estudos. Antes disso, sera descrito a memoria, seu processo de formacao e a fisiologia, bem como aspectos referentes ao envelhecimento e memoria. De acordo com evidencias literarias, tanto os exercicios aerobios como os de forca proporcionam beneficios mnemonicos a idosos. A literatura nao dispoe suficientemente de estudos cientificos para determinar qual o melhor exercicio para a melhoria da memoria em idosos e pouco se tem sobre os efeitos fisiologicos do exercicio de forca na memoria. Por fim, podemos afirmar que, por provocar mudancas bioquimicas e psicofisiologicas, o exercicio fisico bem orientado, sistematizado e dependendo do tipo, pode ser utilizado como meio preventivo e de tratamento nao medicamentoso para o retardamento do deficit de memoria em idosos.

PALAVRAS-CHAVE: exercicio aerobio, exercicio de forca, memoria e idosos.

Full Text:
INTRODUCAO

Compreender a relacao entre o exercicio fisico e a memoria em idosos e um assunto novo e tem sido material de investigacao atual, apesar da limitacao de fundamentacao cientifica neste assunto. E, a necessidade de se compreender o efeito de diferentes tipos de exercicios fisicos sobre a memoria e de suma importancia para a qualidade de vida de idosos.

Mello e colaboradores, (2005) afirmaram que apesar de estudos apontarem beneficios do exercicio fisico as funcoes cognitivas (memoria), ha carencia de pesquisas nesta area de estudo referente a intensidade, a duracao do exercicio, bem como o tipo de exercicio (enfase maior no exercicio aerobio) e combinacoes (por exemplo, forca com aerobico).

Existem ainda problemas metodologicos relacionados a: utilizacao de grupos heterogeneos (idades variadas); tipo, duracao e intensidade do exercicio aplicado; niveis de condicionamento do individuo no comeco do estudo; genero do grupo; natureza do grupo controle; e as tarefas usadas para medir a cognicao (Colcombe e Kramer, 2003); (Simonsick, 2003).

Tendo em vista a necessidade de novos estudos, com propostas diferenciadas, esta pesquisa bibliografica tem o objetivo de verificar os efeitos fisiologicos do exercicio aerobio e de forca (resistido) sobre a memoria em idosos, bem como as diferencas ou nao entre os efeitos desses dois tipos de exercicio fisico sobre a memoria dessa populacao (qual deles teria maior efeito sobre a memoria?), na tentativa de um embasamento teorico para futuros estudos longitudinais.

E assim, a partir dessa proposta, alertar sobre a importancia da pratica regular de diferentes tipos de exercicios, para a melhoria da qualidade de vida da terceira idade, pela possibilidade do exercicio retardar o processo de deficit de memoria.

Desse modo, surgiu a necessidade de buscar os diferentes estudos realizados a respeito do efeito dos exercicios aerobio e de forca sobre a memoria em individuos idosos.

Este estudo trata-se de uma revisao da literatura, onde foram pesquisados artigos nas bases de dados PubMed, Scielo e Web of Science, alem de terem sido utilizados diversos livros classicos sobre o assunto. A pesquisa foi iniciada em dezembro de 2006 e foi concluida no inicio do mes de marco de 2007. Na busca de periodicos usamos as combinacoes das seguintes palavras-chave em portugues e ingles: envelhecimento, exercicio de forca, exercicio resistido, exercicio aerobio, memoria, idosos, cognicao, aptidao, idade, exercicio fisico e treinamento.

Iniciaremos esta revisao abordando o conceito de memoria, seu processo de formacao e fisiologia envolvida, bem como, o que a literatura mostra sobre o que acontece com a memoria durante o envelhecimento. Tais assuntos servirao de base para entendermos como se dao as possiveis contribuicoes dos diferentes tipos de exercicio a memoria em idosos.

MEMORIA: Conceitos, Processos de formacao e Fisiologia

A literatura diz que a maioria das coisas que sabemos sobre o mundo em que vivemos nao sao inatas, mas sim foram construidas por meio da experiencia (pessoal e social) e mantida pela memoria. As mudancas sociais e o progresso acontecem pela capacidade intrinseca do encefalo de armazenar o que aprendemos pelos orgaos dos sentidos e de transmitir tais coisas as outras pessoas (Squire e Kandel, 2003).

Existem diferentes conceitos de memoria. Alguns autores consideram como a capacidade que o ser humano e outros animais possuem de armazenar informacoes que possam ser evocadas e utilizadas em outro momento. Memoria e a autobiografia de um individuo, o repositorio de vivencias e sentimentos (Lent, 2001). Para Byrne (2000), memoria e a persistencia do aprendizado que pode ser mostrado em outro momento quando for necessario, ou seja, e a retencao de alteracoes que dependem da experiencia durante um determinado de tempo.

Os varios modelos propostos por estudiosos, o crescente numero de trabalhos sobre memoria e as varias formas de interpretacao de diferentes autores resultaram em varios conceitos para a memoria, dividindo-a e subdividindo-a em diferentes tipos e em varios sistemas.

Geralmente a memoria e dividida em componentes temporais diferentes (tempo de retencao entre a aquisicao e a evocacao)--ultra-rapida, de curta duracao e de longa duracao. A memoria ultra-rapida (memoria sensorial pre-consciente) dura de fracoes de segundos a alguns segundos. E armazenada em areas sensoriais, e acontece apos ativacao de alguma regiao neural por eventos internos ou externos (Lent, 2001).

A memoria de curta duracao e um tipo de memoria que retem a informacao temporariamente (dura minutos ou horas) ate que seja esquecida (muito sensivel a alteracoes) ou se incorpore em um armazenamento de longa duracao, mais estavel e permanente. A memoria de curta duracao e subdividida, de acordo com a psicologia cognitiva em: memoria imediata e memoria de trabalho.

Ja a memoria de longa duracao e ilimitada em sua capacidade, automantida e estavel (dura dias, semanas), e pode reter milhares de fatos, conceitos e padroes, algumas vezes por toda a vida, garantindo o registro do passado autobiografico e dos conhecimentos do individuo (Baxter e Baxter, 2001).

Alem da memoria de curta e de longa duracao, alguns autores classificam um outro tipo de memoria conhecida como memoria intermediaria a longo prazo, que pode durar dias ou semanas, mas que finalmente e perdida (Guyton e Hall, 1997).

Quanto a sua natureza a memoria pode ser dividida em memoria implicita (nao-declarativa), explicita (declarativa) e operacional. A operacional e aquela que armazena informacoes temporarias apenas para a utilizacao rapida no raciocinio, resolucao de problemas, e no planejamento do comportamento (Lent, 2001).

Memoria declarativa ou explicita e a lembranca consciente de fatos e acontecimentos, que pode ser declarada de forma explicita verbalmente ou como uma imagem visual. Consiste em lembrancas vividas do passado entremeadas com emocoes. Alem disso, compreende os varios fragmentos do conhecimento que fomos adquirindo durante nossa experiencia de vida e aprendizado. Subdivide-se em episodica (autobiografia dos eventos datados) e semantica (memoria para fatos) (Baxter e Baxter, 2001).

Por outro lado, memoria nao-declarativa ou implicita e aquela que nao necessita de recuperacao consciente de experiencias previas especificas. Apresenta qualidade automatica resultante da experiencia, onde tarefas sao desempenhadas sem que percebamos. A aprendizagem de habilidades motoras e cognitivas relaciona-se a esse tipo de memoria (Andreatini e colaboradores, apud Antunes e colaboradores, 2004); (Byrne, 2000).

O processo de formacao da memoria envolve algumas etapas. A primeira etapa, aquisicao ou registro, consiste na entrada de um evento qualquer (um acontecimento, um objeto, um pensamento, uma emocao, sequencias de movimento) nos sistemas neurais ligados a memoria (Squire e Kandel, 2003).

A segunda consiste na codificacao que significa comparacao ou selecao, atraves de semelhancas e diferencas, entre memorias recentes e antigas (Guyton e Hall, 1997). Refere-se ao modo pelo qual o material que encontramos, recebe atencao, e processado, preparado e priorizado, para ser armazenado na memoria (Squire e Kandel, 2003).

A terceira etapa, armazenamento ou consolidacao, e a manutencao do conhecimento, podendo ser reforcado pela repeticao ou associacao com outros dados. Processo durante o qual os aspectos selecionados de cada evento ficam disponiveis para ser lembrados (Guyton e Hall, 1997). Segundo Squire e Kandel (2003), nao ha um centro separado para a memoria, onde as memorias sao armazenadas de forma permanente, e ela nao se encontra de forma homogenea dispersa ao longo do sistema nervoso. Diversas regioes do encefalo apresentam funcoes especializadas e estao envolvidas na representacao de um simples evento, mas cada regiao contribui de forma diferente para o armazenamento de memorias completas.

A ultima etapa e conhecida como evocacao ou recordacao (lembranca). Consiste num processo que permite a localizacao ou acesso a uma memoria armazenada para utiliza-la mentalmente ou externa-la atraves do comportamento (Izquierdo, 2002). E atraves da evocacao que a memoria pode ser avaliada (medida) pelo desempenho numa sessao de testes (Santos, Milano e Rosat, 1998).

A regulacao desses processos esta diretamente relacionado as condicoes emocionais, motivacionais, niveis de consciencia e fadiga (Izquierdo, 2002). Aquilo que e armazenado na memoria pode ser modificado pela aquisicao de informacao nova, interferente, assim como por episodios posteriores de recapitulacao e de evocacao, alem de influencias endogenas, hormonais e neuro-humorais. Uma informacao nova adquirida em um determinado contexto neurohumoral sera melhor evocada se durante o processo de evocacao o contexto neurohumoral for semelhante ao momento da aquisicao ("dependencia de estado") (Santos, Milano e Rosat, 1998).

Questoes relativas a organizacao e o armazenamento da memoria levaram a um avanco no conhecimento dos complexos mecanismos comportamentais, anatomicos, moleculares, fisiologicos e neurais envolvidos neste complexo sistema (Squire e Kandel, 2003; Izquierdo, 2002).

Estudos cientificos chegaram a varias descobertas referentes ao assunto: ha diferentes formas de memoria; diferentes estruturas neurais encefalicas desenvolvem papeis especificos; e a memoria e codificada em neuronios individuais e depende de mudancas na intensidade de suas conexoes. Alem disso, tais mudancas sao moduladas pela acao de genes especificos nas celulas nervosas (Antunes e colaboradores, 2004).

Diante disso, chegou-se a conclusao que as regioes anatomicas que acontecem a memoria declarativa sao: lobo temporal medial e o diencefalo (hipocampo, cortex parahipocampal, cortex perirrinal e entorrinal) (Byrne, 2000).

Ja com relacao a memoria nao-declarativa esta acontece em diferentes regioes encefalicas e sao dependentes de estruturas envolvidas na tarefa e de estruturas especificas do cerebro. As regioes anatomicas sao: a amigdala (respostas emocionais); o cerebelo e medula espinhal (musculo esqueletico); estriado, cortex pre-frontal, cortex motor, cortex somatosensorial, cortex visual e cerebelo (habilidades e habitos); neocortex--cortex occipito-temporal; e sistema de reflexo (Baxter e Baxter, 2001).

A memoria acontece, fisiologicamente, por circuitos neurais, ou seja, por modificacoes da capacidade de transmissao sinaptica como resultado de atividade neural previa (alteracoes altamente seletivas da forca das conexoes sinapticas entre os neuronios do cerebro). Tais modificacoes causam o desenvolvimento de novas vias (tracos de memoria) para a transmissao de sinais pelos circulos neurais do cerebro (Guyton e Hall, 1997). Izquierdo (2002) conclui que as memorias sao oriundas de neuronios, sendo armazenadas por redes neuronais e evocadas por essas mesmas redes ou por outras, e que ha uma grande variedade de circuitos e mecanismos neurais, nao conhecidos por completo, para a aquisicao, armazenamento e evocacao dos varios tipos de memoria.

Ha um consenso em considerar que as informacoes transitorias e duradouras sao armazenadas em varias areas corticais, relacionadas a sua funcao. Por exemplo, memorias motoras no cortex motor, memorias visuais no cortex visual (Lent, 2001).

Estudos evidenciam o desenvolvimento de um modelo de formacao da memoria trifasico sequenciado e altamente dependente, que consiste em memoria de curta duracao, de duracao intermediaria e de longa duracao. Neste modelo a consolidacao da memoria de longa duracao esta associada a um programa celular de ativacao (enzimatico) do sistema de mensageiros secundarios (quinase), a transcricao genetica no nucleo, a alteracao da sintese proteica e ao crescimento de novas conexoes sinapticas. Ou seja, a conversao de uma memoria de curta duracao numa de longa duracao e acompanhada pelo crescimento de novas conexoes e exige um programa celular de expressao genetica e um aumento da sintese proteica (Byrne, 2000).

Algumas substancias atuam com moduladores da memoria--hormonios e peptideos opioides. Uma delas e a R-endorfina (peptideo), liberada apos um estresse, e pode atuar como um marcador mnemonico causando uma dependencia de estado. As catecolaminas--adrenalina e noradrenalina, vassopressina e ACTH (hormonio adrenocorticotrofico) sao secretados de acordo com nivel de estresse, e modulam a memoria atraves de um nivel otimo de secrecao ou causando a liberacao de [beta]-endorfina (Antunes, 2006).

A memoria e susceptivel a essas influencias logo apos a aquisicao da informacao. Estes hormonios e opioides reguladores da memoria, tambem estao envolvidos na regulacao homeostatica do exercicio fisico, bem como o sistema nervoso central (simpatico--participacao da noradrenalina)--ajustes rapidos aos diversos segmentos corporais durante o exercicio (Santos, Milano e Rosat, 1998).

ENVELHECIMENTO E MEMORIA

De acordo com o IBGE (2002), no inicio da decada de 90 a populacao idosa representava 7,3% da populacao total. Hoje a populacao de idosos (14.536.029 idosos) no Brasil esta em torno de 8,6% da populacao total (169.799.170 pessoas). Estima-se que nos proximos 20 anos os idosos excederao 30 milhoes de pessoas, chegando a representar cerca de 13% da populacao total do Brasil.

Outros dados mostram que os idosos no Brasil sao portadores de, pelo menos, uma doenca cronica, utilizam um medicamento regularmente e um em cada tres pode apresentar sintomas psiquiatricos. Os servicos de saude daqui sao insuficientes para as necessidades dessa faixa etaria (Garrido e Menezes, 2002). A maior parte dessa populacao e composta por mulheres de baixa renda, viuvas e de baixo nivel de escolaridade -60% dos responsaveis idosos por domicilios sao considerados analfabetos. Alem disso, existe um crescente aumento da proporcao de idosos vivendo sozinhos (IBGE, 2002) e o comprometimento cognitivo ligado a dependencia nas atividades da vida diaria esta relacionado com a mortalidade em idosos residentes em centros urbanos brasileiros (Ramos, Simoes e Albert apud Charchat-Fichman e colaboradores, 2005).

De acordo com esses dados o crescente numero de idosos leva-nos a uma preocupacao com o processo de envelhecimento. Envelhecimento e a mudanca natural de processos biologicos, isto e, a perda progressiva das capacidades fisiologicas, que ocorrem ao longo do tempo de vida (Robergs e Roberts, 2002). Nesse processo os sistemas organicos nao conseguem desempenhar bem suas funcoes diante de variacoes do meio interno (Farinatti, 2002). Para Cotman e Engesser-Cesar (2002), o envelhecimento esta associado ao comprometimento tambem da funcao cognitiva (memoria, atencao, tempo de reacao e velocidade de processamento), alem da fisiologica.

O grau de disfuncao de memoria varia de individuo a individuo e dependendo do nivel pode comprometer a qualidade de vida deste (Cunha e Sales apud Antunes, 2004). O plato de desempenho cognitivo acontece no adulto jovem (Lyketos, Chen e Anthony apud Antunes, 2004) e comeca a declinar progressivamente por volta dos 45 anos, podendo este declinio acontecer de forma mais lenta, em pessoas que mantenham um bom nivel intelectual (Dunn e Lewis apud Antunes, 2004).

As causas do processo de envelhecimento tentam ser explicadas a partir de teorias biologicas, baseadas no declinio e degeneracao da funcao e estrutura dos sistemas organicos e celulas. Estas teorias podem ser classificadas de acordo com a natureza genetico-desenvolvimentista e estocastica. As de natureza genetico-desenvolvimentista entendem o envelhecimento no contexto de um continuum controlado geneticamente, talvez ate programado. Enquanto que a estocastica acredita que esse processo depende, principalmente, do acumulo de agressoes ambientais que atingem um nivel incompativel com a manutencao das funcoes organicas. Tudo isso acarreta deficiencia da sintese proteica, com consequente disfuncao tecidual e de sistemas que compoe. Para tais teorias falta comprovacao sobre suas influencias e as formas pelas quais interagem no processo de envelhecimento (Farinatti, 2002).

Especificamente, essas teorias sao decorrentes de desequilibrio neuro-endocrino (mau funcionamento do eixo hipotalamo-hipofise), levando a uma diminuicao de integracao funcional dos sistemas organicos; genes relacionados com o controle de taxas de envelhecimento; problemas na reproducao e regeneracao celular; diminuicao da atividade enzimatica por desequilibrios homeostaticos do meio interno (pH, concentracao de ions, temperatura, hidratacao, etc); queda do sistema imunologico, e danos de origem quimica potencializados por poluicao, alimentacao ruim e inatividade (Farinatti, 2002). Alem disso, desaceleracao de reacoes no sistema nervoso por morte celular, perfusao cerebral deficiente, secrecao alterada de neurotransmissores (Shephard, 2003) e alteracoes da conducao neural (Fox e Alder, 2001).

Tambem foi verificada perda ou atrofia neuronal no nucleo basal, que pode estar relacionado a doenca de Alzheimer, no nivel subcortical, no locus ceruleo e na substancia cinzenta, que estao relacionados a doenca de Parkinson. Alem da perda da substancia cinzenta, ha reducao da substancia branca por morte axonica ou degeneracao da mielina, o que ocasiona perda da velocidade de conducao neural e de processamento (lentidao) em regioes do cortex cerebral (Katzman, 1988). E ainda a deterioracao da circulacao sanguinea central, e da barreira hematoencefalica (Kramer e Willis apud Antunes e colaboradores, 2006).

Para Khalsa e Stauth (2001) a exposicao cronica do cerebro a niveis toxicos de cortisol e a principal causa da degeneracao cerebral durante o processo de envelhecimento, pois o cortisol destroi os neurotransmissores e impede a utilizacao de glicose pelo cerebro.

Damasceno apud Antunes (2004) afirmou que com o envelhecimento o armazenamento sensorial e a memoria prospectiva (episodica de curto prazo) enfraquecem--leve perda da capacidade de lembrar de atividades a serem feitas posteriormente ou recordar algo planejado, e a evocacao de material verbal. Algumas alteracoes sao observadas com respeito as narrativas, omissoes na descricao de procedimentos e dificuldade de compreensao. Mas, frequentemente, a habilidade de reconhecimento de longa duracao permanece (Katzman, 1988).

A diminuicao da memoria de curta duracao limita a capacidade de desenvolver novas capacidades e novos conceitos, ou seja, prejuizo na aquisicao de novas informacoes e de converter essas em memoria de longa duracao (Sullivan e colaboradores, apud Fox e Alder, 2001).

Ha tambem alteracoes na capacidade de abstracao e integracao de informacoes, na capacidade de organizacao e flexibilidade mental para mudar de estrategia, na capacidade de concentracao, bem como, na realizacao de uma tarefa motora (Lezak apud Antunes, 2004).

Existe a necessidade da descricao clinica de dois grupos de idosos com declinio da capacidade cognitiva. Um relacionado a trajetoria evolutiva estavel e benigna, e outro com declinio da memoria episodica associada a disfuncao do lobo temporal medial (atrofia do hipocampo e do cortex entorrinal--risco de desenvolver Alzheimer) (Damasceno, 1999); (Charchat-Fichman e colaboradores, 2005).

E preciso ter cuidado em nao generalizar o esquecimento a patologia. Com o tempo, os detalhes somem e fica apenas a essencia do passado. Nossa memoria antiga pode se tornar vaga e incerta. Algum grau de esquecimento, em individuos normais, e uma parte importante e necessaria do funcionamento da memoria, como fator preventivo de sobrecarga de sistemas cerebrais. Para o nao excesso de informacoes armazenadas, existem areas especiais do cerebro que determinam se as informacoes sao importantes ou nao, e tomam a decisao de armazenar ou nao armazenar a informacao como um traco de memoria (Guyton e Hall, 1997).

Exames minuciosos laboratoriais, neurologicos e fisicos, avaliacao clinica e neuropsicologica, e tecnicas de neuro-imagem ajudarao na distincao entre o patologico e o normal (Damasceno, 1999).

Alem do fator idade, existem outros fatores de risco relacionado ao declinio da memoria: baixo nivel educacional (Almeida, 1998), baixo nivel socioeconomico, sedentarismo (Lyketos, Chen e Anthony, 1999 apud Antunes, 2004), a doenca de Alzheimer, falta de pratica recente de habilidades motoras e sensoriais (Shephard, 2003), alteracao na sintese de substancias especificas da memoria (Ozkaya e colaboradores, 2005), doencas cardiovasculares, uso de medicamentos sedativos (Cotman e Engesser-Cesar, 2002), quadros de depressao e ansiedade (Stella e colaboradores, 2002); (Scorza e colaboradores, 2005); (Cheik e colaboradores, 2003), deficiencia estrogenica (Cotman e Engesser-Cesar, 2002), o sono (Martins, Mello e Tufik, 2001), aumento da concentracao plasmatica da homocisteina--aminoacido sulfurado produzido durante o metabolismo da metionina (Selhub, 2000 apud Antunes, 2004), e baixa concentracao plasmatica de vitaminas B6 e B12, e acido folico (Goodwin, 1983 apud Antunes, 2004).

Diferentes caracteristicas do exercicio fisico podem interferir na memoria. Logo apos a realizacao de um exercicio fisico intenso, a formacao de novas memorias pode ser afetada (efeito agudo do exercicio) (Antunes, 2006). Mas, o exercicio fisico regular sistematizado ajuda no armazenamento de informacoes novas (Mello e colaboradores, 2005).

Uma das estrategias que poderia retardar o processo de envelhecimento biologico e atraves do exercicio fisico regular.

Desse modo, e importante a discussao sobre as mudancas biologicas que ocasionam a degeneracao das funcoes organicas, para entender como se dariam as possiveis contribuicoes do exercicio (Farinatti, 2002).

EXERCICIO AEROBIO, RESISTIDO E MEMORIA NA TERCEIRA IDADE

Apresentando a populacao idosa um alto nivel de sedentarismo, a adocao de melhores habitos de vida representa uma economia importante para os cofres publicos na medida em que se diminui a procura por atendimento em postos e hospitais da rede publica, bem como a utilizacao de medicamentos. Assim, o incentivo a pratica de exercicio fisico regular deveria ser rotina na configuracao das politicas publicas de saude no presente e no futuro, pois esta pratica pode contribuir para a reducao de custos sociais de uma sociedade em envelhecimento, pela reducao da necessidade de cuidados medicos e apoio institucional (Antunes e colaboradores, 2006); (Shephard, 2003).

Para Wilmore e Costill, (2001), a deterioracao natural funcional com o envelhecimento deve-se, principalmente, ao fato das pessoas tornarem-se cada vez mais sedentarias com a idade, e ao envelhecimento fisico.

Ja para Cotman e Engesser-Cesar (2002), a contribuicao do exercicio no contexto do envelhecimento, reside nos aspectos funcionais e epidemiologicos (autonomia e prevencao de doencas--coronarias, apoplexia, diabetes, obesidade e osteoporose).

A partir da idade entre 20 e 35 anos, o desempenho de forca e resistencia, devido a alteracoes fisiologicas e bioquimicas, diminui a medida que vamos envelhecendo, em torno de 1 a 2% ao ano (Wilmore e Costill, 2001) e 15% entre a terceira e oitava decadas de vida (Evans, 1999). O exercicio fisico regular pode retardar essas perdas promovendo melhora e a manutencao dessas capacidades fisicas, pelo fato dele (dependendo do tipo) promover adaptacoes endocrinas, neuromusculares e cardiorrespiratorias (Bassey, 2002).

Diversos estudos evidenciaram que a capacidade aerobia pode ser melhorada em qualquer idade e durante o envelhecimento ela pode ser modificada com a pratica regular de exercicio fisico. Ou seja, a pratica regular de exercicio aerobio proporciona melhoria no sistema cardiovascular e no respiratorio--aumento do consumo maximo de oxigenio (V[O.sub.2max]), aumento da frequencia cardiaca maxima, melhora da atividade enzimatica oxidativa, aumento do debito cardiaco, diminuicao ou nao alteracao da pressao arterial, diminuicao da resistencia vascular e aumento da diferenca arterio-venosa (Wilmore e Costill, 2001) e aumento da acao da insulina (Evans, 1999).

A participacao em programas de exercicio resistidos com o intuito de aquisicao de forca, ganhos relacionados a fatores neurais (adaptacao neural), tambem tem proporcionado a idosos beneficios para a realizacao de atividades diarias--caminhar, subir escadas, equilibrar-se, sentar-se, levantar-se, tarefas domesticas, etc (Fiatarone e colaboradores, 1994); (Evans, 1999). De fato, Fiatarone, Marks e colaboradores, (1990), demonstraram que individuos com idade acima de 90 anos podem conseguir ganhos de forca durante um periodo de oito semanas.

Gauchard e colaboradores, (2003) concluiram em estudo que, idosos que praticaram exercicio durante toda a vida atenuam a perda de forca muscular, e iniciar a pratica na terceira idade melhora a funcao muscular a valores proximos a aqueles que praticaram exercicio durante toda a vida.

O exercicio de forca aumenta o conteudo mineral osseo, bem como a massa magra-aumento da sintese proteica (Bassey, 2002), e diminui o tecido adiposo (Robergs e Roberts, 2002), e aumento do metabolismo basal e da acao da insulina em idosos (Evans, 1999).

Os efeitos beneficos do exercicio de forca so acontecem se o exercicio prove uma sobrecarga e estes efeitos sao especificos ao grupo muscular. Esta sobrecarga nao deve ser excessiva e nem proporcionar desconforto cardiorrespiratorio. Por isso, e importante um treino sistematizado (Bassey, 2002).

Idosos treinados apresentam niveis de resistencia e forca bem superiores a idosos nao treinados. Niveis de forca, ate mesmo, igual ou superior a individuos nao treinados que possuam um terco de sua idade (Gauchard e colaboradores, 2003). Uma pessoa ativa na terceira idade e capaz de possuir uma idade biologica reduzida entre 10 e 20 anos relativa a idade de uma pessoa sedentaria (Wilmore e Costill, 2001).

O exercicio fisico regular tambem melhora a funcao imunologica, o que aumenta a resistencia a infeccoes agudas e aumenta o metabolismo basal. Alem disso, o exercicio e capaz de diminuir as concentracoes de triglicerideos no sangue, bem como aumentar as concentracoes de colesterol HDL sanguineo (Robergs e Roberts, 2002).

Varios estudos demonstraram o beneficio do exercicio fisico (aerobio) sobre as funcoes cognitivas (percepcao, aprendizagem, memoria, atencao, raciocinio e solucao de problemas, e o funcionamento psicomotor-tempo de reacao, tempo de movimento, velocidade de desempenho) na terceira idade (Hassmen e Koivula, 1997; Barnes e colaboradores, 2003; Kara et al, 2004; Cotman e Engesser-Cesar, 2002; Simonsick, 2003; Antunes e colaboradores, 2001).

Porem, alguns estudos nao obtiveram a mesma relacao (Read apud Antunes et al, 2004); (Molloy e colaboradores, apud Mello e colaboradores, 2005); (Swoap e colaboradores, apud Mello e colaboradores, 2005).

Alguns autores tentam explicar a nao resposta cognitiva ao exercicio como sendo devido a natureza temporaria das alteracoes programas de exercicios ineficazes (duracao e intensidade insuficientes) (Mollow e colaboradores, apud Antunes e colaboradores, 2004); a necessidade de uma deterioracao minima de funcao cerebral a idade, antes que o beneficio possa ser demonstrado (Hassman e Koivula, 1997); maximo de resposta cerebral quando um certo nivel de condicionamento aerobio tiver sido alcancado (Chodzo-Zajko e Moore apud Shephard, 2003); de que os ganhos nas funcoes cognitivas parecem ser maiores nas atividades mais complexas; ou, em geral, deve-se a problemas metodologicos (Colcombe e Kramer, 2003).

Alguns estudos que verificaram essa relacao benefica entre o exercicio aerobio e a funcao cognitiva serao descritos a seguir.

Hassmen e Koivula (1997) obtiveram resultados satisfatorios na memoria--Digit Span, em 40 idosos (20 mulheres e 20 homens), com idade media de 66 anos, submetidos a um programa de tres meses, 3 sessoes semanais, de exercicios aerobios de baixa intensidade (caminhada).

Antunes e colaboradores, (2001) em estudo realizado com 40 idosas de 60 a 70 anos (64,37 [+ or -] 3,31 anos), um grupo (23 idosas) submetido a um programa de exercicio aerobico (1 hora de caminhada--baseado no limiar ventilatorio 1 e frequencia cardiaca) sistematizado durante seis meses, tres vezes por semana, e outro sedentario (17 idosas grupo controle), verificaram melhora na capacidade de memoria logica (imediata e tardia) do grupo experimental, atraves da comparacao de testes neuropsicologicos antes e apos o programa. Alem disso, houve melhoria na capacidade cardiorrespiratoria, atencao, agilidade, humor e diminuicao dos niveis de ansiedade e depressao. Todas as participantes foram submetidas a avaliacao basal, teste de esforco submaximo com eletrocardiograma e testes neuropsicologicos, alem da aplicacao da analise do humor pela escala geriatrica de depressao.

Barnes e colaboradores, (2003) verificaram relacao positiva entre o exercicio aerobio e memoria em estudo longitudinal durante 6 anos, com 339 idosos (homens e mulheres) com idade a partir de 55 anos. Neste estudo, os idosos foram divididos em 3 grupos, realizando atividades de baixa, media e alta intensidade (de acordo com o V[O.sub.2max]). Os resultados concluiram que idosos que estavam com alto nivel de aptidao cardiovascular obtiveram melhorias na funcao executiva da atencao, na memoria verbal e na fluencia verbal.

Outro estudo com 45 mulheres idosas (68, 04 [+ or -] 5,56 anos), que durante 4 meses, 3 vezes por semana, realizaram exercicios aerobios calistenicos (60-70% da frequencia cardiaca maxima), com duracao de 40 a 50 minutos, obtiveram melhoras significativas na memoria imediata, na recordacao a curto prazo e a longo prazo (Kara e colaboradores, 2004).

Diante das evidencias anteriores, podemos concluir que idosos ativos (praticantes de exercicio aerobio regular) apresentam menor risco de disfuncoes mentais, o que confirma os beneficios desse tipo de exercicio a variavel memoria. Outro estudo realizado com idosos para detectar deficit cognitivo, concluiram tambem que idosos sedentarios apresentaram prevalencia de deficit cognitivo cerca de duas vezes maior do que idosos ativos (Cavalini e Chor, 2003).

O retardamento do ritmo de declinio das perdas da memoria pode acontecer pelo fato do exercicio aerobio ser capaz de ajudar no bom funcionamento do sistema cerebrovascular, na melhoria da funcao cardiorrespiratoria (capacidade funcional), nas alteracoes bioquimicas, ou seja, no aumento do transporte de oxigenio para o cerebro (aumento do fluxo sanguineo) (Antunes e colaboradores, 2001), no aumento na sintese e degradacao de neurotransmissores (que precisam de oxigenio para as reacoes bioquimicas), na diminuicao da pressao arterial, das concentracoes de colesterol e triglicerideos, na inibicao da agregacao plaquetaria (Robergs e Roberts, 2002). Este tipo de exercicio ajuda a reduzir o excesso de hormonios supra-renais, por exemplo, o cortisol que esta relacionado a niveis altos de estresse (Khalsa e Stauth, 2001).

Alem disso, Santos, Milano e Rosat (1998) acrescentam que o exercicio (como agente estressor) estimula a liberacao de hormonios como as catecolaminas, ACTH e vasopressina, [beta]-endorfina, a serotonina, e a consequente ativacao de receptores especificos, o que caracteriza uma relacao do efeito do exercicio na regulacao da memoria. Tais alteracoes, a longo tempo, atuariam em regioes encefalicas relacionadas a consolidacao, armazenamento e evocacao da memoria --hipocampo, amigdala, septo medial e cortex entorrinal, modificando seus mecanismos reflexos de secrecao e metabolismo (Izquierdo, 2002). Nao ha mudancas atribuiveis ao exercicio nas concentracoes dos hormonios sexuais masculinos e femininos na terceira

idade (Bassey, 2002).

Antunes et al (2004) acreditam que alem dos neuromoduladores citados, a melhora do condicionamento fisico, a melhora do humor, diminuicao dos niveis de ansiedade e depressao, e consequentemente, a melhoria da qualidade de vida, tambem sao responsaveis pelo beneficio cognitivo adquirido com o exercicio fisico.

Estudos afirmaram que durante o exercicio ha modificacao da secrecao ou facilitacao a passagem pela barreira hematoencefalica desses hormonios envolvidos, ou esses ativariam receptores perifericos e ou atuariam em regioes cerebrais pouco protegidas pela barreira hematoencefalica, o que otimizaria o desempenho cerebral (Debruin apud Antunes e colaboradores, 2004).

Outros defendem que o exercicio aerobio induz a expressao do gene do fator de crescimento neurotrofico (proteinas), que e responsavel pela plasticidade cerebral e e importante para efetivacao da funcao neural (conexoes fortes e neuroprotecao), principalmente no hipocampo--regiao importante na memoria e alvo da deteriorizacao precoce para doencas neurodegenerativas. O fator de crescimento, em boa concentracao, aumenta a capacidade sinaptica e promove o acrescimo de novos neuronios no hipocampo (Cotman e Engesser-Cesar, 2002).

Essa ativacao neural no cortex prefrontal esta associada com a recuperacao mais rapida da memoria de trabalho em idosos (Rympa e D'Esposito apud Colcombe e Kramer, 2003).

Tudo isso mostra que os efeitos do exercicio aerobio as funcoes cognitivas, dentre elas a memoria, sao multifatoriais e estao relacionados a alteracoes feitas pelo exercicio em varios sistemas (Antunes e colaboradores, 2006).

Ao contrario das varias evidencias citadas sobre os efeitos do exercicio aerobio sobre a memoria em idosos, poucos estudos foram realizados para verificar possiveis efeitos do exercicio de forca sobre a memoria na terceira idade (Ozkaya e colaboradores, 2005; Perrig-Chiello, 1998; Lachman e colaboradores, 2006; Evans, 1999).

Um desses raros estudos, PerrigChiello e colaboradores, (1998) realizaram um estudo com 46 idosos (idade media de 73,2 anos), 18 mulheres e 28 homens divididos em dois grupos de 23--experimental e controle. O grupo experimental foi submetido a um treinamento de exercicio de forca por 8 semanas (uma sessao semanal). Foram feitos pre e pos-testes uma semana antes e uma semana depois do treinamento, respectivamente. Os resultados mostraram melhoras na forca dinamica e no bem estar psicologico, alteracoes significativas na recordacao livre e no reconhecimento do grupo treinado. Para os autores as melhoras significativas na capacidade fisica e nas funcoes cognitivas acontecem em 8 semanas de treinamento.

Outro estudo de Ozkaya e colaboradores, (2005), 36 idosos (idade entre 60 e 85 anos) foram divididos em tres grupos-controle, exercicio de forca (3 series de 12 repeticoes a 60-80% de 1 RM) e exercicio aerobio moderado (50 minutos de caminhada a 70% da frequencia cardiaca de reserva). Durante 9 semanas, em sessoes tres vezes por semana, o grupo de exercicio aerobio realizou caminhada e o outro exercicios de forca. Tambem foram feitos pre e pos-testes funcionais e cognitivos (registro ERP--Event Related Potentials). Os resultados mostraram que os dois grupos que treinaram melhoram a aptidao funcional, e que o treinamento resistido, tambem, pode facilitar o processamento da informacao para a memoria de trabalho em idosos. Os autores acreditam que essa resposta do treinamento de forca deve-se a mudancas no fluxo sanguineo cerebral e funcionamento dos neurotransmissores.

Outro mais recente, Lachman et al (2006) realizaram, durante 6 meses, um estudo com 210 idosos (75,32 [+ or -] 7,37 anos), 163 mulheres e 47 homens. Os idosos foram divididos em dois grupos (102 no experimental e 108 no controle). Os dois grupos realizaram testes de memoria (Wais digit span) e o grupo experimental realizou treinamento de sobrecarga resistido, em media 2 vezes na semana, ate atingir o nivel mais alto de forca no sexto mes. Os resultados mostraram que houve melhoria na memoria de trabalho.

Idosos participantes de exercicios combinados (forca e aerobios) melhoraram mais a cognicao (memoria de trabalho) do que aqueles que praticaram apenas o aerobio (Colcombe e Kramer, 2003).

As diversas respostas endocrinas e metabolicas dependem da metodologia do exercicio (tipo, intensidade e duracao), das caracteristicas fisicas e do condicionamento fisico do individuo. Parece que os exercicios intensos e os moderados de longa duracao exercem um efeito regulatorio na memoria (Santos, Milano e Rosat, 1998). Galbo apud Santos, Milano e Rosat (1998) afirma que a noradrenalina e liberada mais em exercicios estaticos e que envolvam pequenos grupos musculares, quando comparados a exercicios dinamicos e que envolvam grandes grupos.

Para que seja criada uma "dependencia de estado" favoravel a evocacao da memoria atraves do exercicio fisico, este deve ser intenso (acima de 70% V[O2.sub.max]) ou moderado e de longa duracao (mais de 50 min), para que haja uma liberacao significativa de catecolaminas, [beta]-endorfina, ACTH, e vasopressina, alem da interacao necessaria entre os sistemas opioides e as catecolaminas (Santos, Milano e Rosat, 1998).

Antunes e colaboradores, (2006), a partir de estudo bibliografico em evidencias cientificas, relataram que logo apos a realizacao de um exercicio intenso (agudo-anaerobio maximo) de curta duracao, pode haver um declinio cognitivo pelo retardamento transitorio de processos que controlam a preparacao da resposta--memoria de curta duracao. O contrario pode acontecer pela rapida recuperacao fisiologica pos-exercicio, decor-rente de um bom nivel de condicionamento fisico do individuo. Ja no exercicio agudo de longa duracao, o deficit cognitivo e evidente em funcao da deplecao dos substratos energeticos e desidratacao.

Shephard (2003) concorda com Antunes e colaboradores, e acrescenta que os exercicios agudos intensos e/ou com volumes excessivos aplicados a idosos parece poder causar acao depressiva, pela limitacao dos processos de reparo do sistema imunologico (supressao); lesao musculoesqueletica; e ataque cardiaco.

Grande numero de estudos tem demonstrado os efeitos do exercicio aerobio com intensidades entre 40 e 80% do V[O.sub.2max] e duracao de no maximo 90 minutos no estado de humor, na funcao cognitiva e nos sentimentos de bem-estar (Toporowski apud Antunes e colaboradores, 2006).

Parece que o exercicio aerobio traz maiores beneficios sobre os processos de controle executivo--planejamento e memoria de trabalho, apesar de beneficios nos processos automaticos e visuais-espaciais (reconhecer) (Colcombe e Kramer, 2003) e este beneficio parece ser maior quando o exercicio for submaximo (Antunes e colaboradores, 2006).

A participacao em programas de exercicio aerobios curtos (1-3 meses) forneceu beneficio cognitivo similar ao treinamento de 4 a 6 meses, mas o beneficio maior aconteceu em treinamentos a longo prazo (acima de 6 meses). Exercicios em sessoes de curta duracao (15-30 minutos) tiveram muito pouco impacto na funcao cognitiva. Analise de grupos com superioridade feminina apresentou melhor resposta cognitiva que grupos com superioridade masculina, e grupos de meia idade (66-70 anos) apresentaram tambem melhor resposta cognitiva (Colcombe e Kramer 2003).

Por fim, o exercicio fisico regular contribui para a melhoria da memoria, apresentando um efeito protetor reduzindo o deficit de memoria durante o envelhecimento e em populacoes clinicas (patologicas). Alem de ser um meio profilatico e de tratamento naofarmacologico (Cotman e Engesser-Cesar, 2002; Mello e colaboradores, 2005).

CONCLUSAO

Parece que tanto os exercicios aerobios como os exercicios de forca proporcionam beneficios fisicos e cognitivos a idosos, desde que sejam bem sistematizados (frequencia, duracao e intensidade adequada). A literatura nao mostra diferencas entre os exercicios aerobios e resistidos quanto a melhoria da memoria, ou seja, a literatura nao dispoe suficientemente de estudos cientificos para determinar qual o melhor exercicio para a melhoria da memoria em idosos.

Pouco se tem sobre os efeitos bioquimicos e fisiologicos do exercicio de forca a memoria. Parece que esses efeitos sao identicos ao exercicio aerobio. Entender os mecanismos pelos quais o exercicio pode impactar os mecanismos cerebrais podera permitir a otimizacao da saude da memoria em idosos.

Desse modo, ha a necessidade da realizacao de muitos estudos para sabermos que tipo de exercicio exerce maior influencia sobre as funcoes cognitivas, especificamente a memoria, assim como, mais estudos verificando os efeitos fisiologicos do exercicio de forca a memoria.

Assim, partindo da maioria dos estudos aqui apresentados, podemos afirmar que a pratica regular de exercicio fisico orientado e sistematizado (aerobio e/ou de forca) traz beneficios fisicos, bem como pode ser utilizado como meio preventivo e de tratamento nao medicamentoso para o retardamento do deficit de memoria em idosos, e consequentemente, proporciona uma melhor qualidade de vida para essa populacao--envelhecimento digno e independente.

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Marcelo Henrique Alves Ferreira da Silva [1], Francisco Navarro [1], Tania Fernandes Campos [2]

[1-] Programa de Pos-Graduacao Lato-Sensu da Universidade Gama Filho--Fisiologia do Exercicio: prescricao do exercicio.

[2-] Programa de Pos-Graduacao Stricto-Sensu em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte--UFRN.

Endereco para correpondencia:

E-mail: marcelogly@hotmail.com; mhafsilva@ig.com.br

Rua das Andorinhas, 8071 Cidade Satelite--Natal/RN 59067390

da Silva, Marcelo Henrique Alves Ferreira^Navarro, Francisco^Campos, Tania Fernandes


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